Grande Trail da Serra d'Arga 2015 - Trail Curto (23 Km)

Quase dois meses depois ainda se pode publicar o relato de uma prova?

Às 7h da manhã de Domingo estava o despertador a tocar. Era hora de levantar e começar os preparativos para a segunda parte desta aventura. A prova de Sábado tinha corrido bem, mas mesmo assim estava já a contar que os 23 Km de Domingo fossem mais complicados que no ano anterior.

Tudo preparado e siga para a Montaria onde a Rita me ia deixar. Chego lá, saio do carro despeço-me e só depois de ela ir embora é que começo a ver se tenho tudo comigo. Não tinha... Faltava o dorsal! Começo num sprint parvo pela estrada abaixo enquanto vejo o carro a ir embora, até que numa curva mais à frente havia um pouco de trânsito e lá me consegui chegar ao carro. Serviu de aquecimento bem intenso.

Já com o material todo, fui para a partida onde encontrei novamente o Rui Gameiro e um amigo. Acabámos por ficar à conversa até ao início da prova.


A parte inicial da prova foi diferente do ano anterior - em vez de irmos logo para o rio Âncora, começámos a subir dois quilómetros com cerca de 200 metros de desnível e depois descemos novamente para a Montaria no típico piso de Arga: Calçada Romana. Esta primeira subida deu logo para perceber que a perna direita não estava recuperada do dia anterior. Estavam ambas doridas dentro do normal, mas a direita estava mais presa do que o costume, e assim iria continuar até ao final.



Aproveitei bem o abastecimento e segui. A partir daqui era terreno conhecido. Se por um lado era bom saber o que me esperava, por outro preferia ir na ignorância. Ora a correr ora a caminhar segui bem até às margens do Rio Âncora. Esta zona aparece depois de descermos ao ponto mais baixa prova, e quase sem darmos por isso vamos subindo e subindo, ora de um lado do rio ora de outro e sempre na companhia de pequenas cascatas e lagos. É, para mim, a zona mais bonita da prova e um dos motivos que me levou a optar pela distância dos 23 Km (A prova de 33 Km não passa aqui).


Foto "roubada" ao Rui Gameiro
A constante subida e a "escalada" das margens do rio iam-me massacrando as pernas e quando saímos da zona de árvores para entrar na parte rochosa da serra já me sentia muito cansado. Confesso que este ano não apreciei tanto esta zona como em 2014, e o facto de saber o que ainda me faltava até terminar não ajudou nada. Já estava bastante cansado e sabendo o que me faltava só me vinha à cabeça "como é que vou conseguir terminar?"


No final da subida somos "presenteados" com uma área mais plana, onde ainda tentei voltar a correr, mas já estava a ser complicado. Corria uns 400 metros e tinha de voltar novamente a caminhar. Aqui e tal como no dia anterior seguia sozinho, não via nem ouvia ninguém à minha volta até que quando começo a descida para o ultimo abastecimento começam a passar os primeiros atletas dos 53 Km por mim. Portanto enquanto eu fiz cerca de 15 Km eles fizeram cerca de 45.



Na descida para o último abastecimento comecei a pensar no que devia fazer. Estava já muito cansado, o estômago estava a começar a ficar esquisito e tinha consciência do que ainda ia ter de subir e no calor que estava. Comecei a pensar se seria mais prudente ficar no abastecimento. 


Fiquei algum tempo no abastecimento, mas acabei por seguir caminho, tentei enganar-me a dizer que "só" faltava a ultima subida e que depois era a descer (apesar de não ser muito mais fácil fazer aquela descida).



No início da subida passou-me várias vezes pela cabeça voltar para trás para o abastecimento e ficar lá, mas a parte que me forçava a continuar ganhou sempre e a dada altura lembro-me de pensar que já tinha subido tanto e não valia a pena voltar para o abastecimento agora, restava continuar a arrastar-me pela serra acima.

Estava imenso calor e esta parte final é toda muito exposta não há qualquer zona com sombra. O estômago não estava bem, mas tentei sempre forçar-me a beber água. Tinha a sensação de querer vomitar, mas estava com medo do estado em que ficaria se o fizesse. Perdi a conta ao número de vezes que parei e me encostei a uma rocha para descansar um pouco. 


Até que tive uma paragem mais prolongada. Mais ou menos a meio da subida estava um atleta deitado no chão, já tinha vomitado várias vezes e estava em bastante mau estado. Com ele estava um outro atleta a tentar dar algum apoio. Quando chegámos lá revezámos o "apoio" que com ele estava já há uns 30 minutos e ficámos nós. Ligámos para a organização e fomos ficando por ali tentando ajudar até que apareceram três raparigas que estavam também a participar e que por sorte eram socorristas e ficaram com ele. 

Esta zona da prova era complicada, não sei como é que algum apoio da organização iria conseguir chegar ali sem ser a pé. No final da prova encontrei por acaso numa ambulância o atleta que estava a precisar de apoio. Já estava bem melhor e contou-me que a dada altura e sem a organização ter aparecido foram dois colegas de prova que pegaram nele e ora em ombros ora às cavalitas o levaram subida acima até à estrada onde devia estar a ambulância. Fantástico!!!

Se eu também já não estava bem, este episódio deitou-me ainda mais abaixo. Fiquei com receio de o estômago não aguentar até ao final, de desidratar e ficar sem condições para chegar ao fim. Mas com a subida já a meio não ia voltar para trás.

A dada altura entramos numa fase um bocadinho plana e pensamos que acabou finalmente a subida, mas é pura ilusão! Eu já sabia que iam aparecer umas bandeirinhas para a esquerda e que o caminho era por enormes blocos de granito extremamente inclinados. Se já andava a parar imensas vezes aqui dava três ou quatro passos e encostava-me durante um ou dois minutos.


Com a chegada ao posto de vigia (?) só faltava descer. Tinha tido muitas dificuldades nesta descida o ano passado e este ano estava ainda mais cansado. Estranhamento apesar de ter demorado mais ou menos o mesmo tempo na descida não me pareceu tão complicada como em 2014. Talvez tenha sido por conhecer o tipo de piso que "facilitou".


A meio da descida comecei a convencer-me que estava feito, era só ter cuidado para não cair e com mais ou menos tempo ia terminar esta dupla aventura. Pela primeira vez ia fazer 2 corridas com esta dureza e com um intervalo de tempo curto. 

No final da descida estava a Rita há espera e tal como na Maratona de Paris acabei por me emocionar um pouco, depois de tantas horas e de tanto esforço consegui concretizar o objectivo que tinha. 


Foram 5 horas e 23 minutos para os 23 Km de prova com quase 1200 metros de Desnível Positivo, mas terminei e trouxe um colete novo para casa.

Este tempo tem a curiosidade de ser o tempo total de prova, que correspondeu a um "Moving Time" de 4 horas e 21 minutos. O que significa que em toda a prova entre abastecimentos e paragens para descansar perdi cerca de 1 hora. 


A Minha Corrida:

2 comentários:

  1. Bem sofrido... Parabéns pela força de vontade!

    Eh eh, ri-me com esse episódio do dorsal

    Um abraço

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    1. Obrigado, soube muito bem terminar a jornada dupla, mas o domingo custou mesmo a passar.

      E não viste o ar com que fiquei quando reparei que o dorsal tinha ficado no carro, era eu a correr atrás do carro enquanto tentava ligar à Rita e ela a ir embora. Só visto

      Abraço

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